Tributo a Genival Macêdo

Nascido aos 29 de março de 1921 na cidade de João Pessoa, Genival Macêdo estaria completando neste ano de 2011,  90 anos. Aluno do Colégio Pio X, dos Irmãos Maristas, Genival, a par de uma personalidade inteligente e irrequieta, já demonstrava, àquela época, a sua veia poética, compondo singelos sonetos para admiração e gáudio dos seus mestres e colegas. Apesar de sua partida em 18 de junho de 2008, ele continua vivo entre nós. Seu famoso sucesso “Micróbio do Frevo” teve sua primeira gravação em 1953 com Jackson do Pandeiro. Mais recentemente foi gravado por  Gilberto Gil, e encabeçou o CD “Os Cem Anos do Frevo de Pernambuco”.  É tido como um dos mais importantes frevos  da discografia pernambucana. O autor de MEU SUBLIME TORRÃO ainda no final da década de 30, atuando na RÁDIO TABAJARA,  já iniciava sua colaboração com nossos camavais. Com a ajuda de Abelardo Jurema, então diretor da Rádio, de Dulce Carneiro, parente do Interventor Ruy Carneiro,  de Humberto Lucena e Fernando Milanez - locutores - Genival fez muitos programas divulgando nossos carnavais. 0 maior êxito, porém, foi nos anos 1946, 1947 e 1948, quando lançou Folias, que galvanizou a cidade, ao apresentar sucessos locais e nacionais.
Ao longo de sua vida, Genival Macêdo fez perto de 100 músicas carnavalescas. Foram sucesso total em nossos carnavais: BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES, NÃO É MUITO NÃO?, além de duas que encantaram gerações e por muitos considerados obras-primas: SOLTARAM A ONÇA e INGLESINHA que  têm uma história bem curiosa. Genival estava  com amigos no CASSINO DA LAGOA, então um local de grande aglomeração de foliões, quando chegou um grupo de ingleses.  Estavam aqui forçados. É que o navio em que viajavam quebrou e foi obrigado a atracar em Cabedelo, na busca de socorro. Chegaram ao CASSINO DA LAGOA no domingo de Carnaval, de 1941, em roupas nada carnavalescas. Uma jovem do grupo, porém, de uns 20 anos de idade, chamou a atenção de todos por sua beleza. A jovem deixou Genival deslumbrado e ele resolveu homenageá-la. A música foi sucesso total, inclusive gravada em 1951, por  Gilberto Fernandes.
O êxito total de Genival, no entanto, foi a música SOLTARAM A ONÇA. O próprio Genival Macêdo assim explicava como se inspirou para fazer o frevo-canção famoso em depoimento a Wills  Leal em seu livro "No Tempo do Lança Perfume".Diz:Como é do conhecimento dos que viveram aquela época, havia, dominicalmente, a retreta da Praça João Pessoa, abrilhantada pela Banda da Policia Militar. A apresentação  terminava, impres cindivelmente, às 21 horas.  Pois bem, 10 ou 15 minutos após, não havia mais ninguém na praça, com exceção de alguns velhinhos. Era como se uma onça tivesse aparecido. Tive então, a idéia de aproveitar o motivo para  compor “SOLTARAM A ONÇA”. A música depois do êxito na cidade, passou a ser tocada, inclusive, pela banda, no seu regresso ao quartel, após a retreta, substituindo velhos dobrados, com muita gente cantando seus versos, na maior animação. Sua letra:
"Soltaram a onça, / Desce todo mundo. / Aristocrata,vagabundo, / Soltaram a onça, / Não demora um só segundo. / Soltaram a onça! desce todo mundol /. E quando é hora/ A banda toca o seu dobrado/ Quem está amando dá adeus ao namorado, / Então. na praça, / o silêncio é profundo. / Pois, soltaram a onça, / Desce todo mundo/". A música foi composta em 1942 e foi executada em praticamente todos os nossos carnavais, até os anos 50. O maestro Severino Araújo sempre colocou a música em destaque no seu vasto repertório, apontando-a como uma das melhores do compositor paraibano. “A Melhor das Três”, “Rebeca”, “E o Vento Levou”, também passaram a integrar o repertório da famosa Orquestra Tabajara. Durante três anos, de 41 a 43, Genival Macêdo com o seu irmão Gilvan, colocou nas ruas de João Pessoa O PALÁCIO DO FREVO. Com muita luz, som e, claro, bastantes reclames - assim era a expressão da época de nossos comerciais. O palácio tinha três metros de altura e foi montado num Chevrolet 39, com o apoio técnico de Nilton Monteiro. Com esse carro, Genival fez muito sucesso nos camavais, percorrendo não só o centro, como os bairros de João Pessoa, sempre divulgando suas criações e o novo ritmo que chegava à cidade, o frevo.   Outro grande sucesso de Genival foi o Hino do Clube Astréa. Até hoje é lembrado pelos antigos foliões que não perdiam nenhum dos carnavais do saudoso clube. Inúmeros são os intérpretes nacionais e regionais da obra de Genival Macêdo. Entre tantos se pode destacar Jackson do Pandeiro, Carmélia Alves, Carmem Costa, Quinteto Violado, Vocalistas Tupi, Os Cancioneiros, Onéssimo Gomes, Expedito Baracho, Claudionor Germano, Déo, Gilberto Fernandes, Léo Vilar, Jairo Aguiar, Jadir Camargo, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Patrícia Moreyra, Walmir Chagas, Cláudia Beija e Silvério Pessoa. Todos emprestam seu talento e contribuem para o evidente sucesso das criações de Genival Macêdo. Recentemente grandes nomes da nossa música entraram para essa galeria de intérpretes: Chico Buarque e Zeca Pagodinho gravaram "A Mulher do Aníbal”e Gilberto Gil, "Micróbio do Frevo”. É ,portanto, bem  oportuna a homenagem  que o Folia de Rua presta no carnaval de 2011 a esse grande paraibano.  Esperamos que outras surjam ao longo do ano coroando os 90 anos de Genival Macêdo e que em breve tenhamos um memorial para eternizar sua história, empreendimento esse que tem o apoio e empenho do Secretário Estadual de Cultura  Chico César, sensível aos grandes feitos dos artistas paraibanos.
                                                       

Genival Macêdo

 Antonio Vicente Filho

Demorou, mas chegou a hora e a vez do reconhecimento ao talento de Genival Macêdo, cabra de boa prosa na música brasileira, compositor e produtor cultural de mão cheia. O disco “Tributo a Genival Macêdo”, traz clássicos de seu caldeirão em interpretações de nomes de marca registrada com carimbo marcado no selo da boa música brasileira, como Elba Ramalho, Claudionor Germano, Geraldo Azevedo, entre outros,  em desfile de clássicos da altura de “Meu Sublime Torrão”,  “Cigana Mentirosa”, “Saudade de Pernambuco”, “Casado Não Pode”...
 Podemos dizer, sem medo de errar, que este é o ano de Genival Macêdo na passarela da música. Seu famoso sucesso “Micróbio do Frevo”, em gravação de Gilberto Gil, encabeçou o CD “Os Cem Anos do Frevo de Pernambuco”. Com seu “Meu Sublime Torrão”, Genival Macêdo tem cadeira cativa no patamar dos grandes compositores que enalteceram suas terras em canções que ganharam a simpatia e admiração do povo.
Ary Barroso cantou o Brasil na sua “Aquarela do Brasil”, Caymmi  mostrou a beleza da Bahia em várias em formas de versos , Noel Rosa em versos deu beleza a Vila Isabel, Genival cantou, encantou e até hoje encanta a Paraíba quando mostra que “Num recanto bonito do Brasil/Sorri a minha terra amada/Onde o azul do céu/É mais cor de anil/Onde o sol tão quente/Parece mais sutil...”. A trajetória do bom poeta/paraibano foi sempre na trilha da música. Na década de 40 comandou e dirigiu programa da Rádio Tabajara, em João Pessoa, uma espécie de Rádio Nacional da época.
 Depois de fazer sua trajetória pelas principais emissoras de rádio da Cidade Maravilhosa, Genival monta endereço em Recife, com carta branca para dirigir o escritório de representação da poderosa gravadora Copacabana com trânsito livre no Norte e Nordeste, para indicar quem merecia um espaço no campo no estrelato. Genival era uma espécie de técnico da seleção dos artistas que queriam entrar no campo da música brasileira das duas regiões. Com seu prestígio e competência, Genival Macedo foi o guia e a luz que abriu o caminho de Jackson do Pandeiro no solo do Rio de Janeiro. “Só vou para o Rio de Janeiro, se for em companhia de Genival Macêdo”, decretou o futuro “Rei do Ritmo”. A “sentença” se concretizou em 1954, com o “Cristo Redentor” abrindo os braços para a grande estrela que se encaixou na galáxia dos grandes astros do cenário musical nacional.
O que mais falar de Genival? Será que muitos compositores tidos, como consagrados, têm o privilégio e o orgulho de afirmar que têm canções de sua autoria gravadas em vozes consagradas como Chico Buarque e Zeca Pagodinho - “A Mulher do Aníbal”, (Genival Macêdo/Nestor de Paula)?  Acorda, minha gente, ainda tá na hora de reparar a falha cometida.

Antônio Vicente Filho
Jornalista

O sempre atual Genival Macêdo

 Renato Phaelante


Genival Macêdo foi pioneiro em alguns particulares da música da nossa região. Pouca gente sabe ter sido ele e alguns conterrâneos, os responsáveis pelo lançamento do trio elétrico no carnaval brasileiro, antes dos baianos Dodô e Osmar, mais exatamente em meados da década de 40,  pelas rua de João Pessoa, na Paraíba.
Foi também ele quem colocou um molho diferente no frevo, cujos versos, não obedecendo à métrica tradicional, tornaram-se verdadeira inovação e caíram como uma luva no gogó ritmado e personalizado de Jackson do Pandeiro.
Genival é, sem dúvida, um dos precursores da modernidade na música pernambucana, o frevo. Tão moderna e atual, sua música está sendo revista e resgatada com bastante singularidade, através de talentos diversos da MPB contemporânea.
A participação de Genival Macêdo na história da discografia brasileira vem desde 1947, quando, pela gravadora Odeon, foi lançado o samba Diana, acompanhando os primeiros passos daquele que se tornaria um dos mais expressivos conjuntos vocais da música no Brasil: Quatro Ases e um Coringa. Desde então, suas músicas vêm mantendo uma marca de talento e competância que somente os privilegiados possuem.
Muitos foram os seus sucessos. Quem não guarda na memória o Micróbio do Frevo, A Mulher do Aníbal, O Crime Não Compensa, tão marcantes na voz do saudoso Jackson do Pandeiro. E os inesquecíveis frevos Saudades de Pernambuco, Vão Me Levando, Cigana Mentirosa, Quem é Casado Não Pode, que marcaram as décadas de 50 e 60. Esses e outros sucessos fizeram desse compositor, na terra do frevo, um expoente em popularidade à altura de Nelson Ferreira e Capiba.
Inúmeros são os seus intérpretes nacionais e regionais. Entre tantos se pode destacar Carmélia Alves, Carmem Costa, Quinteto Violado, Vocalistas Tupi, Os Cancioneiros, Onéssimo Gomes, Expedito Baracho, Claudionor Germano, Déo, Gilberto Fernandes, Léo Vilar e o mais jovem deles, o Silvério Pessoa. Todos emprestam seu talento e contribuem para o evidente sucesso das criações de Genival Macêdo. Recentemente dois grandes nomes da nossa música entraram para essa galeria de intérpretes quando gravaram “A Mulher do Aníbal”:Chico Buarque e Zeca Pagodinho.
Ao lado desses, outros pernambucanos e nordestinos, de um modo geral, culturalmente envolvidos com a verdadeira história da música brasileira, vêm resgatando, como nesse CD, um pouco da dívida brasileira com esse paraibano que, temos certeza, terá, por muitos anos ainda, suas criações admiradas e curtidas por gerações que, cada vez mais lúcidas, reconhecerão e reverênciarão a  capacidade musical indiscutível de Genival Macêdo.

Renato Phaelante da Câmara
Pesquisador Fonográfico da Fundaj

O grande legado

 Ricardo Anísio

 Genival Macêdo faleceu no dia 18 de junho de 2008, em Recife (PE), aos 87 anos. Em julho do mesmo ano, recebeu a Medalha Augusto dos Anjos (in memoriam), pelo reconhecimento ao seu valor artístico e cultural. Propositura de autoria do deputado estadual Branco Mendes.
Ele foi o autor do HINO POPULAR da cidade de João Pessoa, “MEU SUBLIME TORRÃO" e um dos artistas contemplados com o Registro dos Mestres das Artes (Rema) - a chamada Lei Canhoto da Paraíba, concedida pelo Governo do Estado a artistas de reconhecido valor e que contribuem ou contribuíram para o desenvolvimento da nossa cultura. O compositor é um dos personagens da coletânea Tabajara, 65 anos, a Rádio da Paraíba, lançada pelo Governo do Estado em 2002, uma publicação de A União. A obra é de autoria do jornalista e radialista Josélio Carneiro. É considerado o responsável pelo lançamento de Jackson do Pandeiro, o Rei do Ritmo. Foi empresário de vários cantores nacionais: Altemar Dutra, Ângela Maria, Clara Nunes, Miltinho, Isaurinha Garcia, entre outros.
Famoso por compor sucessos como "A mulher do Aníbal", gravada por Jackson do Pandeiro e mais recentemente por Chico Buarque em dueto com Zeca Pagodinho. Genival também foi contemporâneo do maestro Severino Araújo, Rosil Cavalcanti, do maestro Moacir Santos. Em 29 de março deste 2011 a Câmara Municipal de Joâo Pessoa homenageia Genival Macêdo concedendo em sessão solene a "Comenda Ariano Suassuna"  reconhecendo o seu importante papel na divulgação da nossa cultura.

Ricardo Anísio
Jornalista

O pai do Micróbio do Frevo

 José Teles

A Silvério Pessoa cabe o mérito de redescobrir o autor de Micróbio do Frevo, o paraibano Genival Macêdo. Ele foi produtor e parceiro de Jackson do Pandeiro, a quem conheceu em 1945, como músico amador, em um cabaré de Campina Grande.
Mesmo que não fosse autor de, entre outras, A Mulher do Aníbal (gravada por Jackson do Pandeiro e recentemente por Chico Buarque e Zaca Pagodinho), ou Meu Sublime Torrão, Hino Oficial de João Pessoa (Gravada por Elba Ramalho), Macêdo teria lugar assegurado na história da música popular brasileira como criador do primeiro trio elétrico. Em 1945 (seis anos, portanto, antes do trio baiano de Dodô e Osmar), ele aparelhou um Chevrolet 1939 com um enorme alto-falante e saiu pelas ruas de João Pessoa tocando frevos e marchinhas: “A diferença é que não era ao vivo. A gente levava um passa-discos. O povo gostava, vinha dançando atrás”, recorda.
Macêdo compôs sua primeira canção aos 16 anos: “Meu Sublime Torrão”. A canção foi gravada, em 1937, por Déo e a Orquestra Tabajara, do maestro pernambucano Severino Araújo, e acabou consagrada como hino oficial popular da capital da Paraíba.
Como representante da gravadora Copacabana na região, Genival Macêdo, que já havia feito programas de rádio e participado de um trio vocal (Os Irmãos do Ritmo) em João Pessoa, passou a conviver diariamente com artistas. Foi nessa época, 1953, que trouxe para o estúdio da Rádio Jornal do Commércio (atual Rádio Jornal), no quinto andar do prédio onde funciona o JC, o pandeirista que conheceu em Campina Grande.
Genival Macêdo assina a produção das dez primeiras músicas gravadas por Jackson do Pandeiro: “Recebi autorização do doutor Pessoa (F. Pessoa de Queiroz) para usar o  estúdio da Rádio Jornal. Naquele tempo só se podia gravar até meia-noite, ou então depois desse horário, porque quando o carrilhão do Diário tocava, estragava a gravação”, detalha o compositor.

José Teles

Jornalista e crítico musical do
Jornal do Commércio
Recife

Eco de Grandes Carnavais - Paulo Carvalho

Ainda ecoam nos salões dos clubes sociais do Recife os versos de Cigana Mentirosa... Uma cigana apareceu no meu caminho / E leu a minha mão / A sorrir de mim / Foi dizendo assim / Tiveste uma grande paixão / Oh cigana mentirosa / Outra igual não encontrei / Leva, leva meu dinheiro / Deixa de prosa que eu jamais amei. Vozes em uníssono, saindo de corações apaixonados, cantavam durante toda a  noite. Lá para as tantas com o salão cheio de foliões ouvíamos... Eu não vou vão me levando / Vão me empurrando / Desse jeito eu tenho que ir / Se bato num, empurro outro / Vocês vão me desculpando / Eu não vou vão me levando.
Genival Macêdo, paraibano de nascimento e pernambucano por adoção é o autor desses e de muitos outros sucessos dos antigos e bons carnavais do Recife. Fora do carnaval compôs Meu Sublime Torrão, música tão marcante, que hoje é considerada o hino oficial da cidade de João Pessoa, título conquistado na boca do povo, sendo cantada por todo paraibano que se preza. A antológica Micróbio do Frevo, um divisor de águas na história deste ritmo eminentemente pernambucano, música inovadora, que mudou para sempre o andamento do frevo, possibilitando colocar letra no até então instrumental “frevo de rua”. Saudade do Pernambuco, quem não se lembra do refrão... Comer uma peixada no Pina / Depois ir pra Boa Viagem / Bate - bate de maracujá / Ouvir o Capiba falar / Para a saudade matar.
Jackson do Pandeiro, seu amigo, chegou ao Rio de Janeiro levado pelas mãos de Genival, na época produtor de discos com o selo Harpa da gravadora Copacabana. Foi responsável por inúmeros sucessos na voz do cantor, como, por exemplo, a Mulher do Aníbal, revisitada por Zeca Pagodinho e Chico Buarque. Depois de sua chegada à Cidade Maravilhosa, Jackson despontou como um dos maiores nomes da música popular brasileira e referência para os melhores cantores do Brasil.
Em 1943 Genival e seu irmão Gilvan fizeram a festa do carnaval de João Pessoa com uma novidade: um velho caminhão Chevrolet 1939, dotado de som amplificado tocando frevo pelas ruas da cidade. A invenção foi a precursora do famoso Trio Elétrico, popularizado na Bahia por Dodô e Osmar nos anos cinquenta.
Genival Macêdo, poeta e compositor, foi um homem que esteve sempre na vanguarda, criando, ousando, e fazendo as pessoas felizes com a sua arte.

Paulo Carvalho
Médico e Produtor Cultural

O que dizer de Genival Macêdo ?

 Eurico Rodolfo de Araújo, filho


Quando da inauguração da estátua de Antônio Maria na Rua do Bom Jesus, no Recife antigo, fui instado a proferir algumas palavras sobre o homenageado, tratando-se ele de um parente e do conhecimento que tenho de sua trajetória. E comecei dizendo que existem pessoas que passam na vida tão sem relevância , tão sem significado, tão sem expressão e tão sem ao menos um gesto que seja , que o enalteça e o diferencie como um ser vivente que nem precisavam morrer para caírem no esquecimento, já tão esquecidos que o são em vida.
Em contrapartida existem os que vêem ao mundo predestinado a se eternizarem se não só pelo caráter e pela postura nas decisões, mas também pela qualidade do que produzem e deixam de herança aos que os sucederão.
Genival Macêdo é um deles.
Vindo de João Pessoa onde nasceu em 29/03/1921, já em 1937 aos 16 anos dizia ao mundo para que tinha vindo, quando compôs Meu Sublime Torrão e que a partir de 16/03/1972, através de Lei Municipal 1601 tornou-se o Hino Popular Oficial da Cidade de João Pessoa.
Em 1946, criou o Palácio do Frevo, que nada mais era que uma caminhonete com um serviço de som amplificado que saia às ruas de João Pessoa no período de momo, tocando músicas do carnaval daquele ano, lançando assim o precursor dos trios elétricos de Dodô e Osmar na Bahia.
Compôs Micróbio do Frevo, uma das marcas registradas do carnaval de Pernambuco que atravessa o tempo cheio de vida, re-gravado recentemente por Silvério Pessoa e Gilberto Gil quando das homenagens ao Centenário do Frevo.
Compôs ainda músicas gravadas por Jackson do pandeiro, Camélia Alves, Carmem Costa, Alcides Gerardi, Expedito Baracho, Claudionor Germano e mais recentemente Zeca Pagodinho e Chico Buarque, que gravaram A Mulher do Aníbal , para ficar apenas nesses.
O que dizer de Genival Macêdo sem falar do seu humor, de sua boêmia e da jovialidade de suas preocupações em vida.
O que dizer mais de Genival Macêdo?
Que foi muito bom conhecê-lo e tê-lo no rol de meus amigos, convivendo no mesmo tempo e na mesma cidade.

Eurico Rodolfo de Araújo Filho
Médico e poeta

Câmara Municipal Homenageia Genival Macêdo

O compositor, músico e produtor cultural paraibano Genival Macedo, idealizador do primeiro trio elétrico, se tivesse vivo este ano completaria 90 anos de idade. Ele faleceu em 18 de junho de 2008 e deixou várias composições, como ‘Meu Sublime Torrão’, batizado como hino popular da Capital, na década de 30; ‘Micróbio do Frevo’; ‘Mulher do Aníbal’; ‘Saudade de Pernambuco’; entre outras.
A Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP), através de sua mesa diretora, homenageou, durante sessão solene nesta terça-feira (29), Genival Macedo (in memoriam), com a ‘Medalha Ariano Suassuna’ (uma das mais importantes comendas cultural do Legislativo) que foi entregue pelo presidente da Casa, vereador Durval Ferreira (PP), ao produtor cultural Paulo Germano, filho do compositor, pelos relevantes serviços prestados à música e à cultura da Capital.
Além de compositor, músico e produtor cultural, Macedo tem vários trabalhos feitos em parceria com o também músico Jackson do Pandeiro e foi o criador do primeiro trio elétrico no Carnaval brasileiro, em meados da década de 40, antes mesmo dos baianos Dodô e Osmar. Suas composições musicais foram gravadas e regravadas por artistas de renome nacional e internacional, entre eles Gilberto Gil, Elba Ramalho, Claudionor Germano, Geraldo Azevedo, Chico Buarque e Zeca Pagodinho.
“A Câmara não poderia, neste caso, deixar de enaltecer e lembrar de uma pessoa que tanto fez pela cultura da Paraíba e que deixou até hoje um grande legado musical para o povo paraibano. O músico Genival Macedo tinha um dom de Deus, era uma pessoa iluminada, um compositor criativo, um profissional com uma sensibilidade musical invejável, no bom sentido da palavra”, comentou Durval Ferreira. Segundo ele, o artista amava criar, tocar e divulgar a nossa música e, neste caso, nada mais justo do que homenagear a memória do grande profissional que era Genival Macedo. “Genival é a confirmação de que conhecimento, sabedoria e humildade caminham juntos com o talento”, acrescentou.
Por sua vez, Paulo Germano disse que a homenagem da Casa de Napoleão Laureano é altamente valiosa e representa o reconhecimento pelo que seu pai, Genival, fez em benefício da cultura paraibana e do estado vizinho, Pernambuco. “Me sinto muito feliz por João Pessoa e pela Paraíba, por estarem resgatando a memória dele”, elogiou Paulo, que não escondeu sua emoção ao fazer seu pronunciamento na tribuna. O músico, compositor e cantor  Jadir Camargo considerou o gesto do Legislativo bastante louvável. Ele destacou que é o reconhecimento de que Genival Macedo pautou sua vida em cima de obras musicais que ficaram na lembrança do povo paraibano. “São músicas que vão ficar eternizadas na mente do povo”, disse.
A sessão solene contou com a presença de artistas da terra, dos vereadores Tavinho Santos (PTB), que secretariou os trabalhos, e Raoni Mendes (PDT), do gerente operacional de música da Secretaria de Cultura do estado, Esmeraldino Marques, do diretor do Casarão 34, Bira Delgado, do desembargador Marcos Souto Maior, do ex-prefeito da Capital e ex-governador Dorgival Terceiro Neto, do historiador José Octávio de Arruda Melo, além de outras autoridades, imprensa e artistas da terra.

Genival Macedo faleceu a 18 de junho de 2008.

Paulo de Pádua
Fotos: Olenildo Nascimento